Explicação do Gayatri Mantra
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Explicação do Gayatri Mantra

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Os vedas afirmam que o Gayatri Mantra protege quem o recita… O Gayatri mantra é, conjuntamente com o OM, o mantra mais conhecido e cantado na Índia. Ele (…)

Artigo de: Francisco Godinho - 22/05/2011

Os vedas afirmam que o Gayatri Mantra protege quem o recita…

Artigo

Explicação do Gayatri Mantra

Os vedas afirmam que o Gayatri Mantra protege quem o recita…

O Gayatri mantra é, conjuntamente com o OM, o mantra mais conhecido e cantado na Índia. Ele representa a essência do conhecimento védico e foi percebido e depois ensinado pelo sábio Vishwamitra.

A lenda do rei Viswamitra e do sábio Vasishtha

Gayatri

O rei Viswamitra andava a caçar nas florestas dos Himalaias e um certo dia chegou às proximidades do eremitério do sábio Vasishtha. As tropas do rei estavam cansadas e famintas. Perante isso, Vasishtha saudou o rei e pediu a Kamadhenu, a sua vaca que tinha a faculdade de conceder todos os desejos, que provesse alimento ao rei e às suas tropas.

Vishwamitra ficou impressionado com a vaca mágica e pensou que aquela vaca poderia dar conta de todas as suas necessidades, das suas tropas e do seu reino. Aproximando-se de Vasishtha, ele pediu a vaca como presente, mas o sábio respondeu negativamente, dizendo que somente aqueles que eram realizados na verdade de Brahman poderiam ter a vaca. Vishwamitra ficou muito ofendido e enfureceu-se, ordenando às suas tropas que levassem a vaca à força. Então, Vasishtha ordenou à vaca que produzisse milhares de guerreiros celestiais, que deram uma rude lição às tropas de Vishwamitra, espantando-as do eremitério.

Percebendo finalmente o que ocorrera, Vishwamitra concluiu que toda a sua opulência, armas e exércitos de nada valiam face à realização yogui dum Brahmarishi (título concedido aos mais altos sábios realizados no Brahman, como era o caso de Vasishtha). Assim, Vishwamitra resolveu tornar-se ele próprio um Brahmarishi, abandonando o seu reino e penetrou as florestas dos Himalaias para praticar a meditação profunda em Brahman.

Ao longo de muitos anos praticou exercícios espirituais e meditação, conseguindo grandes poderes yoguis. Vendo o avanço de Vishwamitra, Indra, o deus celestial, assustou-se e temeu que Vishwamitra lhe pudesse vir a suceder no comando dos céus. Assim, enviou uma bela ninfa para distrair a meditação de Vishwamitra. O rei viu-se vítima da paixão e enamorou-se da ninfa, que engravidou e deu à luz uma linda menina. Quando se deu conta de que a luxúria havia consumido todos os anos de esforço e meditação, Vishwamitra renunciou à sua esposa e filha e mais uma vez entrou em meditação profunda.

Desta feita, Vishwamitra conseguiu poderes ainda maiores e Indra, mais uma vez mandou uma ninfa, que tentou atrapalhar a meditação de Vishwamitra. Tendo sucesso na sua empreitada a ninfa aproximou-se do rei, que por sua vez se lembrou da experiência passada e ficou cheio de raiva contra a ninfa por ela ter quebrado a sua meditação profunda. Vishwamitra, então, transformou a ninfa numa pedra. Foi só então que Vishwamitra percebeu que a raiva e ira haviam consumido todos os anos da sua intensa prática espiritual. Mas com perseverança inquebrantável, Vishwamitra subiu mais alto ainda nos Himalaias e entrou mais uma vez em meditação profunda.

Durante esse período, um outro rei aproximou-se do sábio Vasishtha e pediu-lhe para realizar um grande sacrifício do fogo que o ajudasse a atingir o paraíso com o seu corpo carnal e com a sua consciência actual, o que Vasishtha recusou prontamente. Ofendido e revoltado o rei, chamado Trishunku, aproximou-se de Vishwamitra. Vishwamitra viu nesse encontro uma oportunidade de ser vingar de Vasishtha, mostrando os seus poderes yoguis. Feito o sacrifício do fogo, Vishwamitra mandou o rei ao plano de Indra, com corpo e consciência terrena. Sabendo ser impossível manter o rei no plano de Indra com o corpo e consciência terrena, Vishwamitra trouxe-o de volta, mas enquanto descia das alturas celestiais o rei Trishnku chorou e orou para que Vishwamitra o salvasse.

Vishwamitra concedeu a salvação ao rei, criando um sistema estelar apenas para o rei. Ou seja, o seu poder era tão grande que ele criou um céu/paraíso apenas para o rei. Mas ao fazer isso, Vishwamitra percebeu que todo o esforço da sua meditação e exercícios espirituais intensos tinham sido em vão. Mais uma vez ele se viu decepcionado e voltou a fazer o voto de jamais sair da sua meditação profunda. Quando Vishwamitra se deu por satisfeito com a sua prática, Brahma em pessoa apareceu perante ele e disse-lhe que estava muito satisfeito com a intensidade da prática de Vishwamitra, concedendo-lhe o título de Maharishi (Grande Sábio). Entretanto, Brahma avisou-o que para se tornar um Brahmarishi deveria ser abençoado pelo Sábio Vasishtha. Ao dizer isso, Brahma desapareceu. Mesmo tendo atingido o estado de Maharishi, Vishwamitra frustrou-se ao pensar que depois de tudo ainda teria que recorrer ao sábio Vasishtha para ser abençoado.

Com ciúmes da posição de Vasishtha, ele pensou que se o matasse não precisaria das bênçãos para se tornar um brahmarishi. Espreitando a casa de Vasishtha ele pegou uma grande pedra para atirar à cabeça de Vasishtha. Mas quando estava próximo escutou a esposa de Vasishtha, Arundhati, dizendo que já que Vishwamitra se havia tornado um grande homem, ele deveria abençoá-lo e assim elevá-lo ao estado de Brahmarishi. Vasishtha concordou e disse que assim que Vishwamitra o procurasse ele lhe concederia a sua bênção. Ao ouvir isso, Vishwamitra sentiu-se profundamente envergonhado, lançou a pedra para longe e correu para se curvar diante do grande sábio. Assim, Vasishtha disse a Vishwamitra: “Tu mostraste ao mundo que o espírito humano é invencível e não aceita derrota. Conquistaste a luxúria, os desejos, o apego e arrogância, um por um, através das tuas intensas práticas espirituais e meditação. A última barreira era o ciúme. Agora tu conquistaste-o também. Salve Brahmarishi Vishwamitra!”.

Assim que Vasishtha tocou o ponto entre as sobrancelhas de Vishwamitra, o seu chakra frontal expandiu-se e ele viu os sete ritmos pelos quais o Cosmos foi criado. Nesse exacto momento, foi-lhe revelado o Gayatri Mantra juntamente com os sete Vyahritis (literalmente, ritmos, mas que são os sete planos da manifestação consciencial).

Vishwamitra tem como tradução possível “amigo (mitra) do Universo (vishwa)”. Gayatri é um dos aspectos da deusa Saraswati, esposa de Brahma e que representa o seu poder criativo ou shakti. Saraswati é mitologicamente representada como a protectora e inspiradora das artes, da música, da literatura e da ciência. No entanto, esotericamente ela representa o potencial de expressão da mente humana.

O Gayatri Mantra

A palavra Gayatri é composta a partir de duas palavras:

Gaya = Florescer, abundar, energizar (vitalizar), energia vital.

Trâyate = o que protege; o que concede a libertação.

Estudemos este mantra que, juntamente com o OM, é o mais importante das tradições hinduístas.

A estrutura do mantra é de 3 linhas com 8 sílabas cada, perfazendo um total de 24 sílabas. Cada sílaba estimula os impulsos de criação dentro do Ser. Assim, por mais que numa análise superficial o entendimento do mantra fique de certa forma bem claro, é importante dizer que a tradução pura e simples do mantra abrange apenas a superfície da sua real significância.

Deve ficar bem claro que o mantra não é apenas uma oração ou um pedido solene. Esta métrica de 3 linhas com 8 sílabas cada, num total de 24 sílabas, é específica do Gayatri e por isso outros mantras que contém essa mesma estrutura também são chamados gayatri. Dessa forma, por exemplo, temos o gayatri do Ganesha, ou da Lakshmi. O mantra aparece no Rig Veda da seguinte maneira:

TAT SAVITUR VARENYAM
BHARGO DEVASYA DHEEMAH
DHIYO YO NAHA PRACHODAYAT

Note-se que não há a adição dos Vyahritis (Bhuh, Bhuvah, Swaha [svah]), pois a métrica do Gayatri deve respeitar as 24 sílabas no total. Mais adiante falaremos sobre os Vyahritis, mas, de momento, voltemos à métrica do Gayatri:

Como já foi dito, cada sílaba gera impulsos de criação em todo o Ser.
Vamos analisar agora as 24 sílabas e seu significado esotérico:
1) Tat: Sabedoria Profunda (Brahma Jñana)
2) Sa: Bom uso da energia
3) Vi: Bom uso da riqueza
4) Tu: Coragem durante períodos conturbados / acidentes
5) Va: A grandiosidade do convívio amigável com as mulheres
6) Re: A grandiosidade da esposa, que concede toda a fortuna à família
7) Nyam: Adoração e respeito pela Natureza
8) Bhar: Controlo Mental constante e firme
9) Go: Cooperação e Paciência
10) De: Todos os sentidos sob controlo
11) Va: Vida Pura
12) Sya: Unidade do homem com Deus
13) Dhee: Sucesso em todas as esferas
14) Ma: Justiça Divina e Disciplina
15) Hi: Conhecimento
16) Dhi: Vida e morte
17) Yo: Seguir o caminho da rectidão
18) Yo: Manutenção da Vida
19) Nah: Cautela e Segurança
20) Pra: Conhecimento das coisas que estão por vir e Doação para o bem
21) Cho: Leitura das escrituras sagradas e Associação com os sábios
22) Da: Auto Realização e Bem-Aventurança
23) Ya: Boa descendência
24) At: Disciplinas da vida e cooperação

Assim, repito que o mantra não é uma simples oração ou ode a uma deidade específica, mas sim todo um conjunto de conhecimentos profundos e subtis. Não é por obra do acaso que o gayatri mantra é considerado a essência dos vedas. Mas para não ser muito analítico e para dar uma utilidade mais prática ao mantra, vou ater-me a explicar o mantra nas suas três linhas de oito sílabas cada. Mas nem por isso o estudo será superficial, como se poderá comprovar.

Yantra do mantra Om

Dum modo geral, o Gayatri Mantra é cantado ou pensado da seguinte forma:
OM
BHUR BHUVAH SVAH
TAT SAVITUR VARENYAM
BHARGO DEVASYA DHEEMAH
DHIYO YO NAHA PRACHODAYAT


Foneticamente:
om
bhūr bhuvá svá
tát savitúr váreniam
bárgo devásia dimahi
dhio ió ná praxodaiat


Vamos efectuar uma tradução aproximada deste mantra:

OM: de forma simplista podemos dizer que ele é o som primordial, a fonte de toda a criação. Um dos outros nomes pelo qual é conhecido é PRANAVA ou “substrato da vida, princípio vital”. O OM é a base onde toda a criação tem existência. Ele é o substrato de todo o Conhecimento, é o “pano de fundo” onde o potencial criativo se manifesta. Não podemos aprofundar o assunto aqui, mas o OM é produto da Shakti, ou Poder Criativo da Consciência [Brahman]. Somente a explicação deste mantra daria um livro, mas penso que para o nosso estudo basta esta definição.

BHUR BHUVAH SVAH: são 3 das 7 Vyahritis (literalmente, “palavras, dizeres”) percebidas pelo sábio Vishwamitra. Representam 3 dos 7 planos de manifestação da Consciência. As vyahritis e o OM são usadas como uma introdução ao mantra.

BHUR é tradicionalmente associada ao plano físico. Esotericamente é a “espiritosfera” (neologia usada para descrever a amplitude da “atmosfera espiritual” pertinente ao planeta, corpo celeste ou ambiente sideral) do planeta Terra.

BHUVAH é literalmente “atmosfera”. Esotericamente é a espiritosfera imediatamente superior à nossa. Segundo a tradição seria o espaço entre o Sol e a Terra e entre a Terra e os outros planetas. Para o pensamento hindu, todos os planetas são habitados e ao mesmo tempo são consciências distintas, sendo Júpiter o mais avançado (espiritualmente) de todos (no nosso sistema solar). Lê-se “buvahá”. Em alguns casos, onde o ‘h’ final não é pronunciado, é “buvá”.

SVAH: é o Paraíso, o plano mais alto do nosso sistema. Esotericamente é associado ao Sol, que segundo os sábios é o “limite da omnisciência” (Ishwara) do nosso sistema. É o portador de todos os referenciais de conhecimento que possuímos. Para um aprofundamento recomendo que leia atentamente o Yoga Sutras de Patanjali. Infelizmente não poderemos aprofundar aqui este tema, pois é extenso e está relacionado com a manifestação consciencial desde Brahman até ao mundo físico. Lê-se “suvahá”. Em alguns casos pode ser lido como “isváha”.

As vyahrits são interpretadas de várias formas, dependendo do ponto de vista filosófico, podendo ser também interpretadas da seguinte maneira:
Bhur: Rig Veda
Bhuva: Sama Veda
Svah: Yajur Veda
Ou podem ainda ser relacionados com os cinco pranas que fluem no corpo humano:
Bhur: Prana (região peitoral)
Bhuva: Apana (região sacra)
Svah: Vyana (permeando todo o corpo)

Esta abordagem é bem fundamentada nas disciplinas tântricas do Hatha-Yoga e do Kriya Yoga. É outra abordagem que requer uma explicação mais detalhada, mas que infelizmente não é possível neste momento, visto que todo o conhecimento de bioenergia fundamentada no Kundalini Yoga, Laya Yoga, enfim, no Tantra, teria de ser igualmente explicado.

As outras 4 Vyahrits são: Mahaha, Janah, Tapah, Satyam.

TAT: Lit. Aquele, aquela (aqui refere-se à Savitri). Lê-se “Tat” (com t mudo).
SAVITUR: De Savitri, o esplendor do Sol, o brilho solar, os raios solares, a força solar. Em muitos casos Savitri é associado ao deus do Sol (Surya). Ela seria a shakti (poder) de Surya. De forma esotérica representa o Criador, Sustentador, o todo penetrante.
VARENYAM: Desejável, excelente, o melhor entre os melhores.
BHARGO: refulgência, esplendor, luminosidade (que destrói os pecados), brilho, glória.
DEVASYA: Divino, relativo à divindade. Lê-se “devássia”.
DHEEMAH: Meditar sobre; relativo à meditação. Lê-se “dimahi”.
DHIYO: pensamentos elevados ou nobres, intuição profunda, iluminar (revelar a Realidade Última). Lê-se com o i duplo, “diio”.
YO: o que, o qual.
NAH: nosso, de nós, unir, junto, nó. Lê-se “nahá”, com o “á” curto, como em água.
PRACHODAYAT: de prach (pedir, demandar) + codate [chodayate] (animar, inspirar, colocar em movimento), portanto a tradução seria algo como “possa inspirar, possa animar”. Lê-se “prachodaiáte”.

Uma tradução aproximada do mantra (de entre as inúmeras possíveis) seria: “Eu Saúdo aquele Ser, possuidor da refulgência divina e que é a causa e sustentação de todos os planos da existência. Que a minha mente esteja sempre fixa e absorvida Nele e que Ele possa iluminar, purificar e inspirar o meu intelecto.”.

Outros Gayatris

Como disse acima, são gayatris os mantras que têm uma métrica idêntica à do Gayatri Mantra:
Este é o Gayatri de Ganesha: OM Ekadantaya Vidmahe Vakkratundaya Dheemahi, Tanno Danti Prachodayat
Este é o Gayatri de Vishnu: OM Narayanaya Vidmahe Vasudevaya Dheemahi, Tanno Vishnuh Prachodayat
Este é o Gayatri de Shiva: OM Tatpurshaya Vidmahe Sahasrakshaya Mahadevaya Dheemahi, Tanno Rudrah Prachodayat
Este é o Gayatri de Rama: OM Dasarathaye Vidnahe Sitavallabhaya Dheemahi, Tanno Ramah Prachodayat
Este é o Gayatri de Krishna: OM Devakinandanaya Vidnahe Vasudevaya Dheemahi, Tannah Krishnah Prachodayat
Este é o Gayatri de Durga: OM Katyayanyai Vidmahe Kanyakumaryai Dheemahi, Tanno Durga Prachodayat
Este é o Gayatri de Lakshmi: OM Mahadevyai Cha Vidmahe Vishnupatnyai Cha Dheemai Tanno Lakshmih Prachodayat
Este é o Gayatri de Saraswati: OM Vagdevyai Cha Vidnahe Kamarajaya Dheemai Tanno Devi Prachodayat
Este é o Gayatri de Shakti, o Poder Cósmico: OM Sarvasammohinyai Vidmahe Visvajananayai Dheemai Tannah Shaktih Prachodayat
Este é o Gayatri do Guru: OM Gurudevaya Vidmahe parabrahmane Dheemai Tanno Guru Prachodayat
Este é o Gayatri de Surya, o Sol: OM Bhaskaraya Vidmahe Mahadyutikaraya Dheemai Tanno Adityah Prachodayat

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