O perfeccionismo e os danos colaterais (3)
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O perfeccionismo e os danos colaterais (3)
O rasto de sofrimento do perfeccionismo…

O perfeccionismo e os danos colaterais (3)

Este é o terceiro duma série de artigos nos quais é debatido o perfeccionismo.

Artigo de: Francisco José Ferreira - 05/03/2025

 

Artigo

O perfeccionismo e os danos colaterais (3)

O rasto de sofrimento do perfeccionismo…

Abordemos agora os efeitos colaterais que estão correlacionados com o perfeccionismo. Assim que Paul e Gord desenvolveram a sua escala de perfeccionismo e procederam a testes com ela entre universos nos quais o perfeccionismo parecia estar potencialmente presente, começaram a ver que ele contribui para todos os tipos de sofrimento, desde depressão, ansiedade, bulimia, até autoflagelo e suicídio.

Assim, ao longo de centenas de estudos, o perfeccionismo orientado para si correlaciona-se com prazeres como auto-estima e felicidade, mas também com coisas muito más, como depressão, ansiedade, desesperança, problemas de imagem corporal e anorexia. Existem até evidências preocupantes de que o perfeccionismo orientado para si contribui com pensamentos suicidas, embora numa escala muito pequena, sendo mais marcantes a ansiedade e o aumento da depressão ao longo do tempo.

Longe de ser uma compulsão interna ou algo que conduza apenas a tendências obsessivas, o perfeccionismo parece um factor de risco para sofrimento emocional e psíquico de modo mais geral, ou, por outras palavras, existe uma vulnerabilidade agressiva e grave integrada no perfeccionismo, independentemente de qual a faceta sob a qual este se apresente, e essa vulnerabilidade é real e viva e torna-se a lente através da qual os perfeccionistas vêem o que está a acontecer com eles de formas que os tornam extremamente susceptíveis a uma infinidade de problemas de saúde mental.

O perfeccionismo orientado para os outros é um caso curioso, visto que se descobriram relações deste com níveis mais altos de índole vingativa, um desejo grandioso de ser admirado e hostilidade em relação aos outros, bem como níveis mais baixos de altruísmo, cumprimento de normas sociais e confiança, e em relações amorosas, também estreitamente relacionado com problemas significativos na intimidade, maiores conflitos com o parceiro e menor satisfação sexual.

Pessoas com níveis altos de perfeccionismo socialmente prescrito costumam relatar um elevado grau de solidão, medo do futuro, necessidade de aprovação, relacionamentos de baixa qualidade, ruminação e melancolia, receios de revelar imperfeições aos outros, autoflagelo, pior saúde física, baixa satisfação com a vida e auto-estima cronicamente baixa, além de também serem muito vulneráveis a sofrimento psíquico grave, desesperança, anorexia, depressão e transtornos de ansiedade, e também se correlaciona com pensamentos suicidas, mas em grau muito maior comparativamente com o perfeccionismo orientado para si.

Existe um efeito cumulativo do perfeccionismo prescrito socialmente quando ele é associado com o perfeccionismo orientado para si e constituem uma combinação perigosa que pode ampliar problemas em muitas ordens de magnitude na depressão, ansiedade, baixa auto-estima, ruminação ou problemas de imagem corporal.

Talvez esta não seja uma revelação chocante, pois, afinal, o perfeccionismo não seria o nosso defeito favorito se não houvesse algum veneno por trás dele, mas é lícito perguntar se será que entendemos toda a extensão de dor que o perfeccionismo é capaz de causar? E, exactamente porquê o perfeccionismo causa essa dor? Vimos que ele se correlaciona com uma série de problemas de saúde mental, mas ainda não fizemos um mergulho profundo no motivo. Para o fazermos, vamos precisar derrubar alguns mitos, a começar por uma das máximas mais dúbias da cultura moderna, precisamente as palavras de Friedrich Nietzsche “o que não mata, fortalece” com que iniciámos esta análise, que nos últimos anos, se congelaram num chavão, e consegues encontrá-las escritas nas paredes de corredores escolares, vestiários de ginásios, bibliotecas de universidades, gravadas em canecas, tshirts e autocolantes de pára-choques.

Se ao menos nós, perfeccionistas, pudéssemos aceitar que boa parte do que acontece nesse mundo está muito além do nosso controlo… Seríamos muito mais saudáveis se conseguíssemos ver a trajectória da nossa vida com uma equanimidade calma, porém, em vez disso, nós sentimo-nos culpados por todas as coisas más que nos aconteceram, levando cada contratempo para o lado pessoal como mais uma evidência de que somos irremediavelmente falhados.

Consequentemente, sob o enorme peso do perfeccionismo, tornamo-nos ainda mais exaustos e esgotados, a vida transforma-se numa batalha quase heróica para manter as aparências perfeitas, que, neste momento, são frágeis como porcelana, feitas de nada que seja mais forte ou permanente do que um sorriso frustrado, uma exuberância falsa e acessos de medo acumulado, stress, contratempos e fracassos visitam-nos vezes e mais vezes, o julgamento não pára de se acumular, e voltamo-nos contra nós mesmos por não conseguirmos sair desse ciclo, até que um dia a tensão se torna demasiada para suportar, e algo estoira, a barragem rasga-se, a ansiedade escapa-se por onde pode e de formas inéditas.

Os perfeccionistas são incorrigivelmente empenhados e não se conseguem conter, pois alteram e repetem, reformulam e retrabalham as coisas além do necessário. E é dessa forma que o perfeccionismo atrapalha o desempenho, não apenas por causa do excesso ofegante de dedicação, mas também por causa da chamada auto-regulação (a auto-regulação é um pouco como uma energia mental que é esgotada quando comportamentos revigorantes, como exercício, tempo de qualidade com amigos ou dormir o suficiente para se sentir suficientemente restaurados são sacrificados por esforços ainda maiores).

O resultado invariável são o burnout, a síndrome esgotante de exaustão, cinismo e níveis cronicamente baixos de realizações percebidas. O burnout é o motivo pelo qual os perfeccionistas, apesar de todo o seu empenho constante, não são mais bem-sucedidos do que pessoas que não são especialmente perfeccionistas. Eles não dormem o suficiente para compensar noites em claro, trabalham quando deveriam descansar, e ficam a ajustar coisas quando deveriam encontrar-se com os amigos.

Ao olharmos para o medo do fracasso, vemos que é um obstáculo no caminho do alto desempenho para pessoas perfeccionistas. Mas o fracasso é essencial para a vida, pois sem ele, a nossa existência seria definida por uma longa caminhada, que nenhum de nós acharia especialmente estimulante.

Pessoas com alto nível de perfeccionismo, como vimos, empenham-se muito em atingir os seus padrões excessivos, mas isso, em muitos sentidos, é apenas parte da história, pois, quando a situação fica difícil, o medo é tão grande que os deixa relutantes em dedicar qualquer esforço que os possa expor a mais fracassos, portanto, para tornar um pouco mais difícil que as pessoas descubram as suas falhas, eles simplesmente param de tentar quando dão de caras com um desafio que muito provavelmente vai acabar na derrota, daí que recusar o esforço dessa forma é o que se chama auto-preservação perfeccionista.

Longe de ajudar, a procrastinação só aumenta a ansiedade do perfeccionista, pois, em segundo plano, o trabalho continua a acumular-se, e a cada novo capítulo não terminado, cada e-mail não lido, ou cada relatório não escrito, é preciso um esforço ainda maior para pôr o trabalho acumulado em dia. Nós distraímo-nos, ajustamos, perdemos tempo, refazemos e somos vencidos pela passagem do tempo. A auto-sabotagem, seja na forma da recusa absoluta a esforçarem-se ou na da simples procrastinação, é outro motivo pelo qual os perfeccionistas sofrem para ter bons desempenhos. O seu esforço excessivo é ineficiente e leva-os ao ponto do burnout.

Face ao exposto, podemos concordar com a sabedoria popular e aceitar que “o óptimo é inimigo do bom”.

Se sentes que nos Florais ZED te podemos ajudar, contacta-nos sem hesitações…

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